Que perspectivas para os recursos vivos do mar e a sua capacidade de produção?
Autor: Prof. Dr. António Afonso
Resumo:
Apesar do contínuo aumento do esforço de
pesca a que se vem assistindo ao nível mundial, as capturas estagnaram
ao longo dos últimos 10 anos em torno dos 90 milhões de toneladas ano,
acumulando prejuízos que rondam os 50 000 milhões de dólares por ano.
Já
não é possível alguém acreditar que seja viável continuar a explorar de
forma tão intensiva os recursos vivos marinhos, sob pena de, em pouco
tempo, se chegar a uma situação irreversível para muitos stocks. Sabemos
hoje que existem recursos inesgotáveis!
É por isso necessário
refletir sobre a situação atual e, simultaneamente, procurar encontrar
um conjunto de soluções de sustentabilidade para esta atividade tão
necessária para a população humana, tanto do ponto de vista dos
produtores como dos consumidores.
Esta procura terá necessariamente
que ter em conta as questões sociais que estão envolvidas. Cerca de 43
milhões de pessoas estão ligadas à atividade pesqueira em todo o mundo.
Mas também, simultaneamente, as dificuldades não podem ser razão
suficiente para que nada se faça, até que seja tarde para desencadear
quaisquer medidas que invertam a tendência actual. Portugal emprega no
setor das pescas (Pesca + Aquacultura + Indústria) cerca de 32 mil
pessoas, o que estando longe de valores de outros tempos, representa
ainda um sector que contribui para contrariar o desemprego que
enfrentamos atualmente.
Entretanto, muitos países têm enveredado pela
aquacultura, como forma de superar as dificuldades sentidas na obtenção
de produtos do mar a partir da pesca.
Muitos países têm verificado
possuir condições excecionais para esta forma de produção mas, também
aqui, não se trata de uma atividade sem impacto ou isenta de riscos. Na
verdade, esta forma de produção vive, em parte, dependente da pesca como
fonte de alimentação, e é considerada uma atividade de alto risco, do
ponto de vista económico.
Também aqui, ao contrário do que por vezes
se acredita, Portugal não tem grandes potencialidades para a
aquacultura. As possibilidades são limitadas, tanto em locais como em
espécies passíveis de serem produzidas. Por isso, as oportunidades devem
ser estudadas e aproveitadas, porque é urgente produzir.
A mudança
de paradigma neste setor é imprescindível e decisões avisadas e
construtivas são urgentes, para que também as próximas gerações tenham o
que pescar, o que cultivar e o que comer.
A mudança é sempre
causadora de incerteza e insegurança, mas a discussão é uma forma de
todos em conjunto alcançarem as soluções necessárias.